Dia 20 foi um domingo tão ensolarado que o céu azul até doía
o olho. Mas o brilho do Sol não aquecia um coração que acabara de perder uma
pessoa querida.
O amigo João havia partido um dia antes. Guerreiro sereno,
obstinado operário das causas dos desvalidos e hábil semeador de um mundo mais
igualitário. Olhar singelo que conseguia capturar as sutilezas das almas das pessoas, dos
rios, das matas, da vida que se colocava diante das lentas da sua máquina.
O destino implacável e egoísta tirou a vida desse operário
em um golpe tão cruel que só restou o choque aos que ficaram desse lado do caminho e a magnitude de
um trabalho dedicado a quem mais precisa de um gesto de amparo e de um escudo
que o proteja das injustiças.
Tristeza na alma que deu essa passagem tão breve de alguém
tão iluminado e devotado amante das causas dos mais necessitados e explorados.
Ficou o exemplo e a história que cada um carregará dentro de si.
Mas a vida não pode só dar um chacoalhão. Ela precisa
descarregar a sua ira. Mais uma vez, fui traída pelo meu coração, que gosta de
se enganar. Apostei errado e paguei um preço bem alto: mais uma ferida.
No meio desse caos, o silêncio foi o meu salvador. E ele
veio em um abraço tão carinhoso. Não precisei dizer uma única palavra sobre as
minhas dores. Durante um tempo, que nem sei precisar, o aconchego de um abraço
resgatou a minha alma.
Embora meus olhos escancarassem a minha solidão, a união dos
dois corpos em um abraço silencioso me trouxe de volta o sangue nas veias e me
fez perceber que um gesto tão simples foi capaz de mudar o meu mundo naquele instante da noite
do dia 20 de janeiro de 2013.
Agradeço pelo abraço silencioso meu querido amigo.
E também agradeço à vida pela oportunidade de um dia
ter conhecido uma pessoa tão digna quanto o João Zinclair.