quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Uma pequena declaração



"É assim que te quero, amor,

assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas

os cabelos e como

a tua boca sorri,

ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,

mas antes que não me falte

em cada dia que passa.

Da luz nada sei, nem donde

vem nem para onde vai,

apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,

espero-a e envolve-me,

e assim tu pão e luz

e sombra és.

Chegastes à minha vida

com o que trazias,

feita

de luz e pão e sombra, eu te esperava,

e é assim que preciso de ti,

assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir

o que não lhes direi, que o leiam aqui

e retrocedam hoje porque é cedo

para tais argumentos.

Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha

que há-de cair sobre a terra

como se a tivessem produzido os nossos lábios,

como um beijo caído

das nossas alturas invencíveis

para mostrar o fogo e a ternura

de um amor verdadeiro."



Pablo Neruda

Um recadinho para quem eu amo.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O fascínio dos espelhos


Na última segunda-feira, passei no prédio de um conhecido para buscar uns objetos e constatei o amor das mulheres pelo espelho.

Enquanto esperava na portaria do local, já no início da noite, observei pelo sistema eletrônico de monitoramento o entra e sai nos elevadores, que têm espelhos em uma das paredes.

Todas as pessoas do sexo feminino que entraram nos elevadores automaticamente se viravam e fixaram o olhar nos detalhes expostos pelos espelhos.

Umas arrumaram os cabelos. Outras preferiram melhorar o caimento da roupa. Houve ainda moças que mediram os centímetros a mais no corpo. Mas nenhuma resistiu ao charme do espelho. A atração é fatal.

Diferente comportamento tiveram os homens. Todos os que observei ignoraram solenemente o espelho. Imagino que o pobre objeto se sentiu desprezado, mas sabia que logo receberia o carinho de olhos femininos.

Não me contive e comentei com o porteiro, seo Antonio, que as moçoilas eram gamadas no espelho. Acostumado a ver todos os dias as mulheres conferirem o visual, os defeitos e as qualidades físicas nos elevadores, ele riu da observação e brincou que as mulheres são compulsivas pelos espelhos dos elevadores.

Não minto. Faço parte desse time. Não resisto a uma olhada milimétrica, quando vejo um espelho à disposição.

sábado, 19 de setembro de 2009

Os apaixonados por água




Os felinos são mesmo animais surpreendentes. Todo mundo acha que gato tem medo de água.


Normalmente, eles realmente são avessos a um banhinho. Mas em casa temos dois bichanos que fogem à regra.


Tomazio - meu menino branquelo - e Armandinho - o neguinho mais amado da família - adoram brincar com o pote de água e correm desesperados para o tanque ou a pia da cozinha quando ouvem a torneira aberta. Gostam de passar a pata pelo fio d'água que cai lentamente.


A chuva também não é problema para os meus gatos-peixes (rs). Nessa manhã, enquanto o temporal caía forte e as plantas pareciam se deliciar com a água, os dois correram para as janelas da sala e ficaram curtindo a bela cena.


Nem se importavam se molhavam os pelos e as pequenas patinhas. O fascínio de ver a água cair do céu era maior do que o velho ditado "gato escaldado tem medo de água fria".


As duas figurinhas são muito engraçadas. Uma poça com água, um balde na área de serviço ou o banheiro molhado durante a faxina são objetos de desejo de Tomazio e Armandinho.


Os dois lindos gatinhos são apaixonados pela beleza da água.


terça-feira, 15 de setembro de 2009

Mais um anjo


Nossa bela menina dos pelos brancos e pretos descansou hoje. A família está triste. A Tayla Júlia era a nossa "filha" mais velha e morou com a gente pouco mais de 13 anos.
Ela deixa saudades e a certeza de que vale a pena se dedicar a quem se ama, mesmo que seja um felino charmoso.
Sinto como se ela tivesse miando agora e piscando os olhinhos como a agradecer pelos anos de dedicação e os cuidados que dispensamos a ela. Foi um amor recíproco, que deixará boas lembranças.

Um casamento e os dramas familiares


Eu adoro ir ao cinema e confesso que há muito não sentava na frente da tela grande para assistir um filme. Como estou em férias, tenho todo o tempo do mundo para fazer o que gosto e decidi ir ao Paradiso, o único remanescente de uma época na qual o Centro de Campinas abrigava boas salas de exibição.

Eu e mais quatro gatos pingados assistimos ao drama "O casamento de Rachel", do diretor Jonathan Demme. Meu espírito está um pouco agitado nos últimos dias e a película deu mais uma mexida no turbilhão que se transformou a minha mente inquieta.

O filme tem como pano de fundo as tortuosas relações familiares. O casamento de Rachel, interpretada por Rosemerie Dewitt, é o estopim para um final de semana cheio de conflitos, lembranças de velhas histórias e em tocar em antigas feridas que na verdade nunca cicatrizaram.

A história envolve a jovem Kym, papel da atriz Anne Hathaway, que é dependente de drogas e sai da clínica de reabilitação para ir ao casamento, seus pais e a irmã dela que se casará com um músico negro. Ela carrega, além da luta contra o vício, uma fatalidade que selou o destino da sua família.

Os preparativos para a união de Rachel são realizados de forma coletiva e são uma grande mostra de que um evento como esse, que é tão importante na vida de 99% das mulheres, pode se transformar em uma grande festa. E por falar em animação até o samba faz mexer os quadris dos convidados durante o filme.

Não sou especialista em crítica de cinema, mas gostei das cenas constantemente cheias de pessoas; da movimentação das câmeras e do ecletismo que marca a trilha sonora do casamento que perpassa a black music, o rock e tem até o ritmo genuinamente brasileiro.

O drama de Kym, Rachel e seus pais expõe um pouco do que cada um de nós vivemos no nosso dia a dia. Não há casa perfeita e nem pessoas perfeitas. O que vale é saber digerir os problemas e torná-los mais palatáveis. Perdoar é possível, apesar de ser um gesto difícil e que demanda um amor extremo.

Confiram o filme que está em cartaz no Paradiso, às 18h20. Mais informações no http://www.cineparadiso.com.br/

Novos rumos


Fiquei praticamente um mês sem escrever no blog e senti muita falta de olhar o mundo por meio das palavras.

A vida nem sempre é fácil e precisei de um tempo para respirar. Agora me sinto mais forte.

Para celebrar o novo tempo que deve chegar a partir de formas diferentes que estou estabelecendo para dialogar com a vida, quero homenagear a primavera que se aproxima.

Nasci na estação das flores, e me sinto agraciada quando abro a janela do meu quarto e vejo as árvores com as folhas bem verdes e as flores que deixam a entrada da minha casa mais colorida.

A primavera é uma grande lição de que tudo se transforma e pode ficar mais bonito. E mesmo com tantas tristezas ainda na alma, sei que logo a vida vai me levar a novos rumos.

O Tim Maia cantava: Trago esta rosa para te dar... E ofereço rosas brancas para a vida. Elas simbolizam meu desejo de paz e tempos mais felizes para mim e as pessoas que amo.










Amor incondicional



Era uma bela manhã de feriado, Dia da Independência, no ano de 1996. Acordei com a Cristina, minha irmã, informando que a Gorda, nossa gatinha de estimação, acabara de ser mamãe. O parto aconteceu na madrugada, e como toda mãe protetora, ela escolheu um lugar seguro para ter os seus rebentos. E nada mais adequado do que a cama da Cristina, que era a quem ela era mais afeiçoada.


Quando olhei vi aquelas três criaturinhas tão pequenas. Os olhinhos fechados, os narizes rosas e as bocas que não eram mais do que uma linha fina. Um dos bebês era malhado, com três cores - amarelo, branco e preto. O outro era branco com manchas amarelas e o último, e maior, era preto e branco.


Não dava para distinguir logo após o nascimento o sexo dos recém-nascidos. Em poucos dias descobrimos que eram três meninas. A malhada ganhou o nome de Mina. A branca e amarelo foi batizada de Polla e a branco e preto era a Tayla Júlia.


Morávamos em uma pequena casa no bairro Cidade Jardim, próxima a Avenida das Amoreiras e à Via Anhanguera, em Campinas. O lugar tinha apenas quatro cômodos, mais um banheiro e um quintal minúsculo. Mas nunca faltou nada para as nossas meninas.


Perdemos a Polla meses depois de seu nascimento. Ela simplesmente sumiu. A bela garota era a minha companhia das madrugadas, quando eu voltava da faculdade e ainda precisava fazer os meus trabalhos ou estudar para uma prova que aconteceria naquele dia à noite. Como trabalhava o dia todo, a minha vida não era fácil.


Fiquei muito triste quando a Polla desapareceu. Procuramos por ela, porém não a encontramos nunca mais. Mudamos de casa. Saímos da Cidade Jardim, endereço no qual pagávamos aluguel, e fomos residir em uma casa própria no Jardim Novo Campos Eliseos, lugar em que vivo até hoje.


Levar as meninas não foi nada confortável. Nessa época, a Gorda já tinha sido mãe pela segunda vez. Tínhamos também a Brigitte Caroline, que nasceu prematura e se transformou em xodó da família.


Ter que ir para um ambiente novo é sempre traumatizante para um gato. E a Gorda desapareceu durante dias. Quase morremos de preocupação. Ela era a matriarca das nossas meninas e não podia ir embora de repente. Dias depois, ela apareceu magra e abatida. Recebida de braços abertos, aos poucos ela se adaptou à nova casa.


A mesma atitude tiveram Brigitte Caroline, Tayla Júlia e a Mina. Mas como os corações aqui em casa são imensos, dia a dia fomos agregando novos gatinhos à família. Todos abandonados e de rua. Acolher mais felinos acabou irritando duas das meninas - Tayla Júlia e Mina - que decidiram passar mais tempo na casa de uma vizinha do que no nosso lar. Só apareciam vez ou outra para comer e dar o ar da graça.


A Mina adoeceu e morreu depois de ser mamãe pela primeira vez. Ficamos muito tristes com a partida dela e doamos os gatinhos. Foi muito doloroso a ida dela. Tayla Júlia continuava instalada na casa da Dona Alzira, vizinha que a tratava como membro da sua família. Até carne a danada ganhava da aposentada, que vivia sozinha.


Depois de muitos anos morando em duas casas, a Tayla resolveu voltar para o nosso lar. E a partir desse momento passou a dormir na minha cama todos os dias. A Tayla era uma menina grande, imponente, forte e muito sapeca. Sempre adorou ter um espaço só dela e não hesitava em me dar uma mordidinha de leve no pé ou um arranhão de alerta na perna quando sentia que eu invadia a sua área no colchão.


Aprendi a respeitá-la e ela se transformou na minha grande companhia todas as noites. Estivesse eu alegre ou triste, lá estava a Tayla do meu lado. Não interessava se chovia, fazia frio ou se estava aquele calor insuportável, a bela menina sempre ficava em um canto da cama.


Do colchão ela reclamava por comida; saía em disparada quando percebia uma briga de outros felinos no quintal e observava quem entrasse no quarto. Ouço até agora o som do miado sempre alto e cheio de vida da Tayla. Pena que neste ano, um dia após o seu aniversário, nós descobrimos que a minha menina está com câncer. O pior é que o diagnóstico foi desolador: não há mais nada a fazer, a doença está destruindo o seu fígado.


Como dói ver quem se ama simplesmente partindo sem que possamos fazer nada. Todos em casa cuidamos dela com o maior carinho, mas é duro vê-la dia a dia perdendo as suas forças. Aos 13 anos, ela já é uma anciã e está com a vida por um fio.


O que mais gosto nos animais, em especial nos felinos, é o amor incondicional que eles dão a quem cuida deles. A Tayla sempre esteve ao meu lado na cama de solteiro. Não importava se eu estava triste, feliz, aborrecida, de TPM, com insônia, morta de cansaço. Ela era minha companheira de todas as horas.


E não adianta imaginar que outro pode substituí-la, mesmo que em casa residam mais 20 felinos. Assim como aconteceu com as pessoas, não há como trocar simplesmente alguém que se ama por outro. Cada um dos gatinhos é especial e tem um encanto próprio. Eu os amo pelo seu jeito deles e a forma como interagem comigo. Olha que tem figurinhas de gênios difíceis e outras mais flexíveis.


Sei que a Tayla não tem muito tempo de vida. Gostaria de ter uma poção mágica para curá-la. Mas essa artimanha faz parte apenas dos livros infantis. Na vida real, a gente tem que aprender a lidar com a ausência de quem amamos. E pode até parecer exagero na visão de quem não tem animais, contudo a companhia deles deixa a gente muito melhor. Saber amá-los, respeitá-los e cuidar deles ensina muito sobre a vida.


Quero muito que a minha menina parta de forma tranquila e sem sofrimento. E sei que vai deixar muita saudade, como aconteceu quando a mãe dela e sua irmã foram embora. Da família que começou o nosso pequeno gatil só ficará a Brigitte, que nasceu prematura e quase morreu com apenas alguns dias de vida.


Te amo bela garota dos pelos brancos e negros.