segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Quer se filiar ao Partido do Sexo?


Você votaria em candidatos de um partido cuja plataforma política é relacionada a sexo? Na Austrália, a nova sensação política é o Partido do Sexo. A sigla nasceu para mostrar indignação contra uma lei que colocará um filtro na internet para coibir o acesso a 10 mil sites com conteúdo considerado impróprio. E agora a fundadora da legenda já faz planos de chegar ao Senado. Quer se filiar? Pelo menos ele não é compostos por falsos moralistas brasileiros que estão chafurdos na lama e posam de bons senhores. A matéria está publicada no site do G1 e a reproduzo agora.


Inspirado em Obama, Partido do Sexo australiano quer chegar ao Parlamento
Aprovada em comissão eleitoral, sigla quer seguir campanha de democrata.Ao G1, fundadora diz que partido será ‘voz contra o conservadorismo’.


Amauri Arrais Do G1, em São Paulo


Sexo e política só costumam ser citados numa mesma frase quando se trata de algum novo escândalo sexual envolvendo político, mas o recém-criado Partido do Sexo quer apimentar um pouco mais essa relação e levar o assunto para o Parlamento na Austrália.
Com o slogan “Nós levamos sexo a sério”, a nova sigla foi criada em novembro como forma de combater a proposta do governo de um filtro para a internet, que pretende bloquear o acesso a uma lista de cerca de 10 mil sites com conteúdo considerado impróprio.
Escândalos sexuais acontecem porque geralmente os políticos dizem uma coisa e fazem outra. Nós não temos razão para hipocrisia."
Aprovado como partido político pela Comissão Eleitoral Australiana na semana passada, o partido quer agora chegar ao Senado. Para tanto, se inspira na campanha vitoriosa de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos. “Inspirados pela mobilização de militância do presidente Obama, estamos elaborando algo semelhante aqui, com as festas do Partido do Sexo. Não serão festas onde as pessoas poderão fazer sexo mas, como na campanha de Obama, vamos promover jantares, coquetéis e churrascos que tenham o partido como tema, onde possamos debater nossas políticas e, eventualmente, conquistar doadores”, disse a fundadora, Fiona Patten, ao G1.
Candidata
Estilista e funcionária de empresas de diversão adulta, ela confia nos mais de 2 mil membros que já aderiram ao partido nos últimos meses para conquistar uma das cadeiras do Senado, nas eleições de março. “Resolvemos focar no Senado por ser a Casa revisora de leis e por acharmos que podemos ter maior influência lá. Mas há um grande número de apoiadores em suas comunidades que podem se tornar grandes candidatos à Câmara”, diz.
A pré-candidata em foto de divulgação: 'nosso políticos estão se tornando cada vez mais conservadores' (Foto: Divulgação / Arquivo pessoal)
Entre os possíveis eleitores, a fundadora do Partido do Sexo contabiliza, além dos filiados, o público adulto simpatizante do partido na internet que, segundo ela, pode ajudar a divulgar as idéias da sigla a até 30% da população australiana. Combate à censura, educação sexual nos currículos escolares, políticas de igualdade entre os sexos e direitos gays estão entre as bandeiras da agremiação. O site do Partido do Sexo lista algumas razões para se tornar um filiado: “Como um membro do Partido do Sexo você estará ajudando a eleger legisladores que gostam de sexo e não têm medo de apoiar outros no caminho por uma vida sexual plena.” “Na Austrália, nossos políticos estão se tornando cada vez mais conservadores em matéria de sexo e sexualidade. Temos muitos cristãos fundamentalistas no Senado. O Partido do Sexo australiano pode ser uma voz de combate a este conservadorismo”, discursa Fiona Patten.
Uma das vantagens do partido, ela diz, é que “dificilmente” seus membros serão envolvidos em algum escândalo sexual. “Escândalos sexuais acontecem porque geralmente os políticos dizem uma coisa e fazem outra. Nós não temos razão para hipocrisia.”
Constrangidos
A falta de interlocução com os políticos locais, segundo Patten, foi uma das razões para a criação do partido. “Infelizmente, até agora muitos políticos australianos têm dificuldade em discutir temas sexuais de maneira positiva ou progressista. Eu tenho falado com políticos sobre a indústria do sexo nos últimos 20 anos e, num primeiro momento, eles geralmente riem ou ficam constrangidos”, diz.
Ela compara a escalada do conservadorismo no país, junto com a proposta de criar filtros para a internet - também combatida por outras organizações-- com “algo semelhante ao que acontece atualmente na China”. Na última sexta, o país asiático recuou do plano para criara um filtro na internet.“O governo propôs que todo conteúdo sexual fosse bloqueado pelos provedores, não apenas para crianças, mas adultos também. Eles acreditam que isto atingiria 10 mil sites, mas eles obviamente não têm acessado a internet nos últimos tempos. Uma proposta de um filtro para a internet é um grande exemplo de por que nós precisamos de um Partido do Sexo”, afirma.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Saúde é fundamental


Os fumantes que me desculpem, mas saúde é fundamental. Plagiei a frase do poetinha Vinícius de Moraes para lembrar que entrou em vigor a Lei Antifumo em São Paulo. Não fumo e vivo em campanha permanente para que pessoas queridas - como meu pai, minha irmãzinha Ariane e a Soraya (irmã de coração) - parem com esse vício que só faz mal.


Não sou daquelas criaturas que pegam no pé o tempo todo, porém lembro, sempre que possível, a essas pessoas amadas os problemas que o cigarro causa e como elas ficariam melhores sem ele.


Até agora não tive sucesso, mas não desisto. Vivo falando para a Ariane que de nada adianta comprar perfumes caros se ela cheira a cigarro o tempo todo. Lembro ao meu pai que sua saúde é frágil e o vício só piora a situação. Papai Francisco tem um ritual diário: acende o primeiro "pito" rigorosamente entre 6h e 6h30 da manhã. No caso da Soraya, apelo para diferentes argumentos.


Há muita discussão sobre a lei do governo de José Serra, que já fora ministro da Saúde, e uma guerra de liminares impetradas pelos setores econômicos que se sentem prejudicados. Será que as milhares de mortes provocadas por doenças decorrentes do fumo não são suficientes para uma mudança de comportamento do fumante? Pense nisso. Mais informações sobre a lei (http://www.leiantifumo.sp.gov.br/).


Operação de guerra

A gripe provocada pelo vírus influenza A (H1N1) mexe com o cotidiano da população. Hoje pela manhã, vi dois idosos discutindo sobre a propagação da doença no Brasil. De jornal em punho, eles debatiam o que as autoridades deveriam fazer para controlar a pandemia e lembraram que o mundo já passou por outras enfermidades tão, ou até, mais graves do que a atual.
As idéias para minimizar o problema eram mirabolantes. Um deles acha que os doentes com a nova gripe deveriam ser isolados em tendas fora dos hospitais para não infectar outros pacientes. O outro afirmara que o governo deveria multar quem insistir em viajar para outros países, se não for por trabalho ou caso de doença.

As grávidas ganharam atenção especial na conversa dos dois. Para eles, elas deveriam ficar em casa até que a doença desse uma trégua. Um deles falava em estratagemas, que ele lembrara da época em que servira o Exército, para combater a doença como se estivéssemos em uma guerra.

Tudo isso no ponto de ônibus e os outros passageiros que aguardavam o coletivo nem se atentaram para o papo. Eu não sei quais foram as outras elucubrações dos dois sobre o tema, porque fui embora para o meu trabalho. Mas, como o assunto está em alta, deixo umas dicas da Vigilância em Saúde de Campinas para evitar a contaminação pelo vírus:
- Ao tossir ou espirrar, cobrir o nariz e a boca com um lenço, preferencialmente descartável.
- Lavar as mãos frequentemente com água e sabão, especialmente depois de tossir ou espirrar.
- Evitar locais fechados com aglomeração de pessoas.
- Evitar o contato direto com pessoas doentes.
- Não compartilhar alimentos, copos, toalhas e objetos de uso pessoal.
- Evitar tocar olhos, nariz ou boca.
- Em caso de adoecimento, procurar assistência médica e informar história de contato com doentes ou/e roteiro de viagens recentes.
- Não usar medicamentos sem orientação médica.
- Pessoas com sintomas de gripe (febre, tosse, coriza e dores de garganta, de cabeça ou pelo corpo e desconforto respiratório como dor e dificuldade para respirar) devem procurar o profissional de saúde onde habitualmente já se consultam para avaliação do médico e monitoramento clínico, diagnóstico precoce de gravidade e investigação epidemiológica de casos graves e surtos. Elas não devem ir ao trabalho e à escola ou a locais de aglomeração de pessoas. Os hospitais devem ser reservados para os casos mais graves.


segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Nova gripe: papos acalourados no ônibus

A quinta morte de paciente em decorrência de complicações de saúde provocadas pelo vírus influenza A (H1N1), em Campinas, foi o combustível para um diálogo aflituoso de duas mulheres hoje pela manhã no ônibus que tomei para vir ao trabalho. Os mais íntimos sabem que não tenho nenhuma habilidade na condução de um veículo automotor, então só me resta usar o transporte público ou os táxis da praça da cidade.

As passageiras - mulheres de meia idade, mães e trabalhadoras - estavam preocupadas com a propagação da doença, apesar de mostrarem pouco conhecimento acerca dos sintomas da nova gripe e das medidas que devem ser adotadas para previni-la. Uma delas, que dizia estar espirrando desde a última sexta-feira, afirmou que iria a um pronto-socorro, mesmo não apresentando outros sinais que pudessem gerar suspeita de problema mais grave e justificassem uma corrida desenfreada em busca de ajuda médica.

A outra disse que temia pela família e o neto ainda pequeno. O relato dela sobre a nova gripe, com base na história contada por uma comadre, era terrível. Ela disse a amiga, que já estava assustada com o simples fato de espirrar, que o vírus causava dores insuportáveis, febre que queimava o corpo e era de difícil tratamento. Quem ouvia a conversa achava que o mundo está condenado a morrer com o influenza A (H1N1).

Elas ainda estavam indignadas com parentes e amigos que não mostravam o mesmo desespero das duas em relação à doença e se irritaram ao perceber que boa parte dos vidros das janelas do coletivo estava fechada. Imaginei que se alguém tossisse durante a viagem já seria motivo para as duas entrarem em pânico.

Dois jovens que estavam próximos, e não tinham mais do que 22 anos, não contiveram o riso diante da conversa das duas amigas e comentaram entre si que continuariam a beijar muito e curtir bares lotados de gente da mesma idade deles. A gripe não era motivo para parar a vida, disse um deles. Um senhor de mais idade - estimo que uns 70 anos - também deu o seu pitaco no papo dos dois rapazes e contou que já havia vivido muito para saber que sempre vai aparecer uma doença nova e que aquilo fazia parte do equílibrio populacional do mundo.

Os diálogos ilustram bem como a sociedade se posiciona diante de questões que influenciam o cotidiano da população. Eu, particularmente, acredito que é necessário ficar atento ao problema, mas não há motivo para um clima de fim de mundo. Prevenção, informação, diagnóstico rápido, medicamentos adequados e um sistema de saúde preparado para atender os casos mais graves são suficientes para combater o problema.

sábado, 1 de agosto de 2009

A pipa bailarina


O vento frio começava a soprar na noite de ontem, na Praça Arautos da Paz, em Campinas, quando uma pipa amarela resolveu dar um espetáculo no céu já coberto pela escuridão. Centenas de pessoas ouviam as belas composições executadas pela excelente Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) Itinerante, que se apresentou gratuitamente no espaço público e teve como regente o maestre Roberto Tibiriçá.


Eu fiquei sentada no gramado, como um grupo numeroso de outros expectadores que se deleitava com a interpretação dos músicos para peças de Tchaicovsky, Strauss, Carlos Gomes e Ravel. Eu assistia a tudo atentamente e de repente vi quando a pipa entrou em cena.


De forma tímida, ela iniciou seu baile solitário. O conjunto formado por varetas de madeira, papel de seda e uma rabiola longa e branca dançava ao toque do vento e o som da música. Não consegui enxergar quem comandava a bailarina, mas o balançar sutil e cadenciado no ar completava a apresentação da orquestra.


O show da pipa bailarina durou 20 minutos até que ela sumiu na escuridão. A Osesp continuou o espetáculo e depois de mais de uma hora de apresentação a plateia, em pé, aplaudiu efusivamente os músicos.


A apresentação era digna de mais expectadores. A iniciativa de um evento ao ar livre, e sem custo para quem foi assistir, merece palmas, visto que o Brasil é um país que ainda está longe de oferecer à sua população atividades de qualidade e gratuitas. Viva a cultura nacional.


A programação da Osesp Itinerante pode ser conferida no www.osesp.art.br/home.aspx.




A procissão de luzes


Domingo de Carnaval deste ano. O Sol estava encoberto por nuvens, o clima estava abafado e o som do samba ecoava pelas ruas da Vila Industrial, próximo a Estação Cultura, em Campinas, situada a quase 100 quilômetros de São Paulo. Depois de mais de 30 anos, o Nem Sangue Nem Areia, formado por um grupo de amigos que resolveu resgatar a antiga agremiação, que um dia foi símbolo do tradicional bairro operário, animava quem teve coragem de sair de casa depois de uma noite de sábado na farra de Momo. Eu era uma dessas pessoas que não se incomodaram em deixar de lado aquela preguiça gostosa de domingo e decidiram requebrar os quadris com o batuque dos tamborins, chocalhos, cuícas e surdos.
O desfile saiu mais de três horas da tarde, e mesmo com o percurso curto, no meio do caminho eu desisti da empreitada e fui dar uma caminhada na velha estação de trem, que fora o ponto de encontro dos foliões. O espaço que ganhou o nome de Estação Cultura, na administração do governo da ex-prefeita petista Izalene Tiene, e que havia voltado a ser patrimônio cuidado pela Prefeitura por meio das mãos do prefeito assassinado Antonio da Costa Santos, já foi uma das principais ligações ferroviárias do país.
Entrar naquele ambiente sempre me traz grandes recordações. Enquanto os amigos se divertiam com o samba e a folia nas ruas da Vila, eu andei pelos trilhos e brinquei em um velho vagão decorado. Outras locomotivas sem uso e degradadas pelo tempo estavam paradas no pátio. A estação em nada lembrava o frenesi de outros tempos, quando vivia cheia de gente e de vida.
Nasci em uma pequena cidade do interior de São Paulo, Adamantina, na região de Presidente Prudente. Como já tenho mais de 30 anos, lembro-me da importância do transporte ferroviário para os brasileiros. Quando eu era criança, sempre que meus pais visitavam parentes em Rio Claro e Campinas, as viagens eram feitas de trem.
Era sempre uma festa. Eu e minhas irmãs, Ana Cristina e Ariane Fernanda, adorávamos os petiscos vendidos nos vagões. Os trens estavam constantemente cheios no final dos anos 70 e começo da década de 80. Era gente entrando e saindo em cada uma das estações do percurso, que trazia passageiros da região de Adamantina até a distante São Paulo.
O trem foi a porta de saída da minha pequena cidade para o local que minha família adotou como nossa nova casa. Em fevereiro de 1985, mudamos de Adamantina para Campinas, onde viviam alguns tios maternos. A mudança foi traumática, pois eu entrava na adolescência e já estava apaixonada por um mocinho da minha idade, apenas 13 anos.
Foi difícil me separar da minha história, dos meus amigos, dos meus lugares de infância e das pessoas que eu amava. Mas minha mãe achava que teríamos mais chances na vida se vivêssemos em uma cidade grande, com universidades e mais possibilidades de trabalho. O tempo mostrou que a aposta dela estava certa.
A nossa viagem de trem começou pela manhã e terminou à noite. Nunca esqueci do barulho das rodas da máquina de metal nos trilhos do mesmo material durante aquela viagem. Ainda me lembro do homem que picotava os bilhetes e os conferia. Eu estava triste, cada apito ou estação que nós passávamos me levava mais longe do meu porto seguro.
Vi o dia ir se findando, e quanto mais próximo da minha nova casa, mais iluminado era o caminho. De longe, ao olhar pela janela do vagão, os postes brilhavam como se fossem velas em uma procissão. Na escuridão dos trechos por onde os trilhos cortavam Campinas, que em meados da década de 80 tinha mais de 600 mil habitantes, a minha única companhia, em meio ao turbilhão de medo e saudade que eu sentia, era a procissão imaginária que me alentava e me dava esperança de uma vida nova, como sonhara minha mãe.
Ainda hoje, quando passo próximo da velha estação da Fepasa (Ferrovia Paulista S.A.), lembro do dia em que cheguei a Campinas com receio do futuro e já chorosa do passado. Também me recordo de outros tantos rostos, que como o meu, se encantavam com o vaivém de pessoas na parada de trens e com a cidade grande. Nunca vai sair da minha memória a procissão de luzes, que para mim foi o sinal do novo tempo que chegava para a minha família.Com alegrias e tristezas, a vida traça a nossa história. Hoje, olho a roda da minha vida e vejo como ela girou muito desde o dia em que desci naquela estação de trem. Sou jornalista; tenho uma família amada; amo meus poucos, mas fiéis amigos; tenho 21 gatos lindos; sou tarada por chocolates; convivo diariamente com várias realidades e agora estou aqui nesta telinha para contar um pouco do que a gente vive no nosso dia-a-dia. Espero compartilhar os meus relatos e receber histórias de quem deseja fazer parte dessa grande roda. Anote na agenda o nosso email rodadehistorias@gmail.com.

A bela foto da Estação Cultura que ilustra este texto é da talentosa Dominique Torquato, fotógrafa do Correio Popular de Campinas.