quinta-feira, 7 de abril de 2011

O elixir do amor: Halls preto

Passava das nove da noite da quarta-feira (30 de março), quando uma cena me chamou a atenção no ponto de ônibus. Depois de mais um dia de correria na Redação, fiz a minha caminhada até o Centro de Campinas. Passei no supermercado e comprei cinco litros de leite.

Cheia de sacolas nas mãos, segui para o ponto de ônibus, que fica em uma via movimentada do Centro de Campinas. A parada estava cheia de trabalhadores e estudantes. Sem lugar para sentar, encostei na proteção que separa o local da outra pista da rua.

Bem próximo a mim estavam um senhor e uma moça. Ele tinha pelo menos uns 70 anos e ela não passava dos 30 anos. O homem era mais baixo que eu. Sou uma pessoa que estou longe de seguir os padrões atuais das moçoilas. Tenho apenas 1,61 m de altura.

O senhor não era bonito, mas tinha um ar de avô carinhoso. Estava bem trajado. Calça social, camisa branca e sapato social. Ele usava óculos e ainda tinha uns poucos fios de cabelo bem aparados.

Ela era bem mais alta que eu e o senhor. A moça usava uma blusa de alça, calça jeans e uma bela sandália. Ela tinha uma estrutura robusta. Não era elegante. Tinha um jeito moleca, sem requintes no andar ou na mexida dos braços. Ela não desgrudava de uma sacola que carrega bem junto ao corpo.

Ele não tirava os olhos do rosto dela. Os dois conversavam baixinho. Nem se interessavam pelos coletivos que desciam a rua. Muito menos para quem chegava ou saia do ponto. Ela procurava manter uma distância do corpo dele, que devagarinho chegava mais próximo da moça.

De repente, ele colocou a mão no bolso e tirou uma embalagem de Halls preto. Os mais entendidos na arte do amor e do sexo dizem que a bala pode ser um ótimo estímulo para ganhar um beijo ou para emoções mais fortes entre os apaixonados.

Ele tirou uma das balas; levou-a a boca e continuou a conversa com a moça. O senhor já estava bem mais próximo dela do que no momento em que cheguei ao ponto de ônibus. E ele também estava mais ousado. Passava a mão de leve nos braços da jovem mulher.

Em uma ação mais contundente, se aproximou da moça e tocou de leve a sua boca nos lábios dela. Ela não se opôs e no breve instante daquele tímido beijo deixou que o senhor conduzisse a situação. Após a iniciativa dele, os dois corpos se aproximaram.

O ônibus que me conduziria à minha casa chegou na parada na hora em que o homem e sua jovem acompanhante protagonizavam discretamente um encontro carinhoso. Em outras épocas, o fato chamaria mais a atenção. Afinal a diferença de idade era gritante.

Hoje, é natural ver homens mais velhos com mulheres bem mais novas. Há quem diga que são relações fadadas ao fracasso. Outros preferem acreditar que o melhor é deixar a vida seguir seu rumo sem olhar para idade, credo e cor. Penso que amar sempre vale a pena, desde que seja uma relação que se baseie em respeito, companheirismo e reciprocidade.

Entrei no ônibus e fui para a minha casa com a imagem dos dois gravada na memória. Não sei como terminou aquela noite para eles. Mas sempre vou me recordar do ato tão singelo dele ao tocar os lábios dela roubando literalmente uma bitoca e que o Halls preto lá estava como testemunha.

Moral da história: Halls preto é o elixir do amor em qualquer idade.

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