domingo, 5 de junho de 2011

Santo Antonio, rogai por nós (os apaixonados)


Museu dedicado a Santo Antonio em Lisboa
O casal parado em um trecho da Avenida das Amoreiras, em Campinas, gesticulava freneticamente. A noite estava bem fria, só que o clima entre os dois tinha uma temperatura elevadíssima. Enquanto o rapaz, de pele morena e visual despojado, tentava abraçar a loira de curvas avantajadas, ela fugia e com dedo em riste vociferava sem parar.

Quantas cenas idênticas vi nas ruas de vários lugares por onde passei nos últimos tempos? Sempre fico imaginando qual seria o motivo da briga: ciúmes, traição, falta de dinheiro, desilusões, pouco amor, filhos, familiares, desencontros. Cada história tem seu enredo e apenas acompanho de longe o movimento dos casais.

Às vezes, até assisto de camarote a tragicomédia. No mês passado (maio de 2011), enquanto esperava pelo ônibus próximo a unidade do Sesc aqui de Campinas, compartilhei com outros passageiros uma confusão entre um triângulo amoroso.

Um jovem rapaz prestava explicações para duas mulheres, que cobravam do homem uma postura de “macho”, segundo a mais velha delas, que deveria ter mais de 30anos, e queriam que ele falasse com qual das moças ele iria ficar.

A mais nova, que deveria ter entre 20 e 25 anos, relembrava momentos que eles passaram juntos e dizia que o rapaz não poderia negar a ligação entre os dois. A outra, quase segurando o moço pelo colarinho, ressaltava que já os havia visto juntos outras vezes.

Ele pacientemente tentava responder a cada um dos questionamentos delas. Mas as mulheres não queriam ouvir nada. Uma falava mais alto que a outra e, praticamente, encurralavam o rapaz contra uma mureta. Infelizmente, não vi o fim desse filme. O ônibus chegou e eu parti.

Mas, se pudesse escrever um final, faria as duas mandarem ele às favas e mostraria para o mocinho que tratar o sexo feminino com desrespeito é um erro imperdoável. Nada melhor que o desprezo. Tenho amigos que sempre me aconselham a nunca “descer do salto”.

Difícil seguir à risca o conselho, mas dividiria com elas, nem que fosse na minha história imaginária, o prazer de um dia na vida mostrar a um espécime do sexo masculino que ele não é a pessoa mais importante do mundo e que qualquer mulher segue a vida muito bem sem ele.

O amor e os atritos andam, ultimamente, de braços dados. O que será que acontece com os enamorados? Não sou o melhor exemplo para tratar de um tema tão delicado, porém gostaria de compreender esse quadro. Com todos que converso sobre o assunto, a resposta é evasiva ou ampla demais.

A única afirmativa comum à quase totalidade é o desejo de viver um grande amor. Dia desse conversando com um amigo em um jantar delicioso, ele e eu chegamos à conclusão que há uma crise de intimidade, medo de assumir um relacionamento, venda da imagem que se está sempre disponível e falta de cumplicidade.

Paradoxalmente, vivemos um dia a dia tão corrido e complicado que um abraço carinhoso, um telefonema em uma tarde estafante e um bom cafumé no cabelo são os melhores remédios para estresse, chefe mal-humorado, dívida no banco e tantas outras questões menores, porém com importância exagerada no cotidiano moderno.

Ele me disse uma frase naquela noite que nunca vou esquecer: “Estou farto de amores com prazo de validade”. Pensar que na minha infância sempre projetei casar com 25 anos, ter um casal de filhos e viver feliz para sempre. O verdadeiro conto de fadas das mocinhas da minha época.

Quando cresci, escolhi outro caminho. Sou uma mulher independente, sem filhos, 20 gatinhos e uma cachorra vira-lata, uma família amada, amigos queridos, com quase 40 anos e solteiríssima. Tive inúmeras desilusões amorosas e ainda estou me recuperando da última delas. Nem por isso perdi a esperança e o desejo de viver um grande.

Na minha juventude, o caminho que as moçoilas acreditavam ser o mais seguro para alcançar a felicidade plena no amor era pedir, com fervor, ao santo casamenteiro: Santo Antonio. Algumas chegavam a maltratar o coitado fazendo simpatias, que segundo os mais entendidos, eram infalíveis. Nunca fiz nenhuma delas.

No próximo dia 13 de junho, daqui uma semana, o santo que nasceu em Lisboa (Portugal) e morreu em Pádua (na Itália) será celebrado por milhões de fiéis. Todos os anos como o famoso pãozinho de Santo Antonio, e, vez ou outra, também aprecio o bolo que leva a benção do santo. Dizem que é o doce um dos responsáveis por atrair casamento ou um amor.

Nos dias de hoje, só rogando mesmo a Santo Antonio para encontrar uma pessoa que queira ser mais que uma aventura de um mês ou um romance com “prazo de validade”. Quem sabe o santo interceda a favor de quem ainda acredita em amor e mande alguém que seja companheiro (a), amante, carinhoso (a), amigo (a), confidente, bem humorado (a), inteligente, cheiroso (a). Os defeitos a gente descobre depois.

Ah! Mais uma frase sobre relacionamentos para marcar no caderninho: Voltar com ex que não presta é igual tomar café requentado. Não tem mais gosto nenhum. A autora: Sheila Rosely, companheira de trabalho no jornal Correio Popular.

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