quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Carta a dois grandes amores

Campinas, madrugada do dia 28.

Não consigo dormir. Estou de luto. Velado, sereno, escondido atrás de um sorriso triste e um olhar perdido pelo mundo. Mas que causa imenso vazio.
Dois grandes amores partiram da minha vida neste mês. Janeiro chuvoso, com muitas tragédias, perdas irreparáveis para milhares de haitianos, que viram parte da sua história como nação e também pessoal virar pó em um terremoto, e para famílias brasileiras que vivem o drama das enchentes.
Meu pranto é insignificante perto da tristeza desses desvalidos. Embora, infinitamente menor, a dor que ele causa na alma não dá para mensurar. Nem sei onde começa ou termina dentro de mim. Apenas dói e para mim é o bastante.
Eu havia prometido que não voltaria a escrever no blog. Finquei bandeira em uma posição radical para evitar conflitos desnecessários, mas as minhas mãos são os únicos canais que eu tenho agora para deixar fluir a minha solidão e a angústia que me corrói o peito.
Lutei tanto por dois amores nesses últimos anos. O primeiro deles aconteceu há quase dez anos. Ele entrou na minha vida em uma época de grandes mudanças: seis meses depois do fim da minha faculdade, desistência de uma paixão, busca de afirmação profissional, novas amizades. Eu começava a construir um caminho diferente e o amor apareceu.
Ele nunca foi fácil de ser vivido. Teve muitos altos e baixos. Partidas sentidas e voltas apaixonadas. Desilusões e expectativas nunca concretizadas. Desejos compartilhados e noites excitantes. Foi uma história com todos os ingredientes de um grande amor.
Relutei muito em aceitar vivê-lo. Sempre tive um pé atrás com os roupantes do coração.  Com quase 30 anos, resolvi me entregar a esse amor e deixá-lo fluir. Eu sempre soube que não chegaria a lugar nenhum. Só que quando a razão é vencida pelo coração, não há nada a ser feito. O jeito é ir colecionando as cicatrizes.
Uma hora eu sabia que chegaria ao fim. Preferia que tivesse acontecido de forma mais pacífica. Não foi. A gente constrói as histórias e elas sempre trazem consigo tristezas, erros, conflitos, mágoas e tantos outros percalços. Entretanto, há também as boas lembranças que são um tesouro que se guarda na alma.
Aprendi a duras penas que não há perfeitos e nem pecadores no mundo. As pessoas falham e acertam. Tem momentos em que somos mais egoistas; em outros, cedemos. Há dias fúria e horas de amor extremo. Nunca é uma linha reta. E, se fosse, não haveria graça.
Embora aceite o ponto final, sofro agora. E sei que não há remédio para esse tipo de enfermidade. Os ensinamentos populares falam do tempo como a cura. Mas ele só faz a gente lembrar. Os ponteiros do relógio são como uma prisão que nos obriga a olhar para a vida e ver que o tempo de ser feliz é já.
Meu outro grande amor era clarinho, de olhos azuis profundos, bigodes longos e um jeito carinhoso que cativava quem o conhecesse. Eu o vi pela primeira vez em uma madrugada de dezembro de 2007.
Noite quente, e eu virava de um lado ao outro da cama. Assustado com a possível agressão de um opositor bem mais forte, ele pedia por socorro e não hesitei em pular dos lençóis para salvá-lo. Foi amor à primeira vista. Ele estava abatido e com medo. Cuidei, junto com a minha família, para que ele fosse amado e crescesse saudável.
Durante pouco menos  de dois anos, ele foi o meu xodó. Era o mais fotografado, abraçado e mimado. Em dezembro do ano passado, ele adoeceu. Fiz de tudo para salvá-lo, mas dessa vez não consegui. Ele partiu e sinto uma falta tremenda daquelas patinhas afofando a minha barriga.
A dor foi tão forte que poucas lágrimas caíram. O peito era um buraco só e a alma ainda se pergunta porque ele foi cedo demais. Eu me apego fácil e sempre me fragilizo com as despedidas. Porém, elas são inevitáveis.
Bye, bye, meus dois amores. Trago uma parte de vocês comigo.
 

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